sonetos3
dermografias
alma doiro cria azul e forma leve
espaço intenso de moldura nivelado
feito nervo por altura em ser alado
como um baço aglomerado que não serve
vem um traço mal pintado de agonia
vem um grito inflamado à pirueta
som e ritmo que prescinde a napa preta
e uma nuvem tão formosa quão esguia
oh miragem oh castigo enrolado
oh soturno adiamento de impressora
que me espreita assustado pelo mato
nessas noites em que o ponto é mais amado
em que a vírgula é tratada por senhora
eu deliro como um tile em acetato
- - -
o despropósito das galáxias
foi naquele luar sintético que a
digitalização dos ossos carbónicos
se equacionou de forma lógica em
algoritmos da monstruosidade virtual
após o que resultaram estranhas
órbitas mentais protagonistas de
sinuosas trepidações on-line que
permitiram então ratificar
o despropósito galáctico de sofrer
na quinta estrela como se os vulcões
das ventoinhas dos sistemas de ondas
se projetassem nas vagas nipónicas
de cyber-atitudes em 380k ou mesmo
nos modelos mais avançados
- - -
soneto codificado
ARIB ¢ OB ¢ DA ¢ O ¢ ADA ¢ APA
A ¢ Q ¢ S ¢ P ¢ ALI ¢ AC ¢ CADAP
AAXORA ¢
EHOSED ¢ M ¢ AGEDU
OFUR ¢ S ¢ ORAD ¢ S ¢ XEÇEDU
EP ¢
OSODE ¢ DEN
¢ O ¢ OMUTA
UMOVEC ¢ A ¢ OTO ¢ O ¢ R ¢ L ¢ P
ILARERA ¢
ÉRIMUV ¢
AMAL
COSA ¢ N ¢ ATO ¢ RAP ¢ AR ¢ LA
RED ¢
UORUM ¢
ANAV ¢ LOT
¢ P
PAQUHERAR ¢ DEGAPEBIFU
ATOBOSAFA ¢ IBAFET ¢ OLE
EBAMA ¢ O ¢ SOFARENO ¢ I ¢ E
PARORASINARI ¢ E ¢ TOR ¢ T
MU ¢
ÇAREDOCI ¢
ADEMÃSAP
poings11
antítese descritiva
o teu rosto não fascina
o teu saber não deslumbra
o teu olhar não domina
- - -
a primeira pessoa
amor |
= |
amo
|
amor narcisista |
= |
amo-me |
amor narcisista obsessivo |
= |
me
amo-me |
amor narcisista de partilha condicionada |
= |
me
amo-te |
amor narcisista irradiante |
= |
me
amo-nos |
amor seletivo |
= |
amo-te |
amor seletivo proveta |
= |
te
amo-me |
amor seletivo obsessivo |
= |
te
amo-te |
amor seletivo generalizante |
= |
te
amo-nos |
amor épico |
= |
amo-nos |
amor épico omnisciente |
= |
nos
amo-me |
amor épico integrante |
= |
nos
amo-te |
amor épico obsessivo |
= |
nos
amo-nos |
- - -
calmantes I
há
mais
comida
ainda
no
frigorífico
- - -
calmantes II
vamos
todos
escrever
coisas
bonitas
nas
paredes
das
casas
de
banho
- - -
cultura do grito
os gritos que se ouvem à noite
são votos de amor entre as folhas douradas
que sentem calor nas horas desmaiadas
sem tempo nem dor nem força para nada
os pinheiros oscilam entre edifícios cinzentos
que os ventos os ventos
eu navego sozinho pela estrada de mim
sem me ter nem me ver nem me ouvir
porque se o fizera não estaria sozinho
mas me estaria acompanhando
é bom ser parasita de si próprio
e sulcar os percursos que a tempestade não vê
ter vontade sem ter vontade de a ter
assim se esquece a memória da cultura do grito
assim sobrevivem as nuvens de cadafalso enigmático
na prisão do corpo mutilado
e que é tão só eu
excetuando o eu que já de mim não é
- - -
hey, rimbaud
no corpo sincopado das esferas
um livro de garrafas tão rotundo
inter-conjuga feras pelo fundo
da má destilação que o ser espera
enquanto eu dou louvores à primavera
acionada e dilatada pelo mundo
como espero fazer compras de natal
amanhã no pingo doce
pode ser depois de almoço?
pode
passas lá em casa?
ok
- - -
insert coin
insert coin
o ódio vem escrito nos sublimes da vírgula
insert coin
num cristal de sangue exclama-se a lua de acordes
insert coin
salivar no sentir abaulado de um cartão magnético
insert coin
as vísceras doentes de um tecno-erro
insert coin
fundição do pó nos alicerces do etc
insert coin
- - -
morreram
morreram as aves
morreram os cavalos
morreram os casacos
morreram as botas
morreram as rádios
morreram os ouvintes
morreu a cigana que nos lia a sina
morreram os estudantes na china
- - -
o simples b
b
- - -
pacilugar
não há pacilugar para um tiranarca
de alguns contiras vindo
existem apases para os mesmos confrentar
neste presoje que fomentos criuindo
vidastino porque me falbandonaste?
ou porque me corromcializaste?
arrancuxa os dentáculos
da morvidez em que te casinseres
e sê indiveliz
- - -
poluição poética 22
evade-se o operário
que cisma outorgado
pelo cessar do tópico
em que se sustenta
para nutrir o quilate
desliza negligente
pela inércia do íntegro
para se equivaler
às sedes e mínguas
de cada vivente secreto
só numa órbita
penetrante de domínio
se enlaça
no acalentar do ínfimo
pentátrios4
a aventura de
um lobo numa torrente de alfinetes
conseguir que
o seu tempo brilhe no giro
repetido que
chegamos a ver pouco trajado em
mais luzes de
primeira que as torrentes
possuem no bem
do mundo e no sentir
da semente de
um qualquer jardim
entalava uma
imagem assim fresca em
que nem fazia
por guardar nenhuma das
eras
anteriores aos jardins onde os
alfinetes
marcavam os motivos
constituía já
quase uma resposta
endossada como
um estúdio que levava
imobilizado
fora do olhar de ninguém
quando a
humanidade possuiu botões
de outra busca
de declaração
depois podiam
vesti-la
- - -
quero um requintado hot-dog com especiarias
desentaipar a minha décima com astrodinâmicas
desalagar o meu jónico com mesolábios
afaimar a minha malevolência com gâmbias
arraigar a minha falácia de intenção com livrecâmbios
tão dorsífero o prédico sem beneplácito
derraigar o meu utilitarismo com cosmolábios
amainar o meu sassenach com hermodinâmicas
envaidar o meu barbarismo com senagâmbias
odorífero enciclopédico do jurássico
esfaimar a minha weltpolitik com bentâmias
desenvaidar a minha quimera com recâmbios
oh morbígero ortopédico querido clássico
aplainar a minha hedíandis com frâmeas
teu o esclarígero penta-tétrico e antrácico
e sendo alígero/piroclético és um ácido
- - -
lac nad sibosi
e nusoresade panhote sibosi dadarado onamalese
sibosi sasefes dadarado panhote e men conemas
u ine fomagiro nad
conemas fomagiro sa lac men ilos sid e me rir ges
nad me men mo ut lac
me mo ilos ut
mo sos sa
asod ine sibosi nad lodagodac conemas e ed sadeha me
sasefes ator as u ilos sos lotoherosor panhote
ges met rir tucis men ebitos
onamalese ofa odesi fomagiro nad ilos
sa me mo ut nusoresade e ine ri sibosi lac
e lateli dadarado ras ses u men
sid
- - -
sombra
sombra excesso sombra
encosta reais texto
escuro imagens excesso
disse sombra encosta
gasta siderais enredo
sentimentos enredo sinais
reais olhos intolerável
dizer sentimentos nuvem
receção assiste cristais
intolerável revelar-se
impossível sentido sombra
olhos vital fragmenta-se
nuvem olhos sinais assiste
imagens olhos assiste
razão razão sinais escuro
canções11
soam calmas as montanhas
vivem no astro os demais
o sono acalma as entranhas
no encanto dos mortais
mais que a noite o tempo esquece
nos mosteiros da razão
o sonho que ao vento perece
de uma estranha sensação
- - -
a geada
sonhei enquanto fervia
há solidão no cair
a tua sola está molhada
sobre as formas há geada
o corpo pode ruir
- - -
alucinação
melados ardentes e suculentos
os corpos erguem-se na multidão
como vozes que reinam ao som do vento
inertes como a própria escuridão
já no espaço crispado de um planalto
onde o sangue jamais será crucial
a lua prepara o derradeiro salto
decadente e sob a forma de plural
em pânico gira o ser humano
temeroso pelos ventos uivantes
o império desfez-se no mesmo ano
em que alguém criou fonemas sibilantes
chega o sete o oito o nove o dez o onze
e blasfemismos deplorando solidão
o medo a morte tudo range o mesmo gonzo
instável sorte dura alucinação
no fim do espaço retardado de um só dia
vai-se o druida e fica o pó do seu calor
o mundo sofre e beatifica a sua via
destrói-se o tempo desatento de um sabor
- - -
animalesco finissecular
foi naquele atordoado palpitar
que o gato soltou gritos de agonia
no uivante e alvejante salivar
de uma presa que da morte não fugia
entre escadas e buracos ondulados
emergiu de uma abelha a ventania
e escreveram em zumbidos e miados
uma estranha e fantástica heresia
- - -
cordas
corre o pranto mata lente ilude a sorte
à luzinha que o machado não ceifou
pelo ventre nela o centro farto o porte
inclinado no quadrado que dotou
sempre sons anacruzados (destruídos)
pela esdrúxula vertigem angular
te atormentam qual mostarda nos ouvidos
da molécula mais ávida do ar
o sinal de mimetismo caricato
como prontuário-cobre de ornamento
é tão pobre que de nobre perde o tato
e o que sobra causa só constrangimento
- - -
estranhos
são estranhos os ronronares distorcidos
são estábulos os estranhos ronronares
são completamente estranhos os vencidos
são vencidos e de estanho os meus lugares
são vencidos e de estanho os meus lugares
são completamente estranhos os vencidos
são estábulos os estranhos ronronares
são estranhos os ronronares distorcidos
- - -
não há
não há no espaço imagem que me atraia
nem no desejo de me ser como me sou
depois é o fim do que julgávamos sê-lo
depois é a morte que a vida cantou
mas sem tinta nem pinta de tê-la
como queres tu que seja formal
já nem sei onde deixei os óculos
já nem sei se o arroz leva sal
- - -
os meus lusíadas
são as calmas de balões não inalados
é a experimental veia puritana
são os lares tão mutantes e salgados
que usaram o porém que me aliena
nos castigos em que ficas atolado
nos sais da ousadia alentejana
na corrente bolorenta se vingaram
caco pleno que em espanto projetaram
- - -
parlamento
depois de avaliadas todas estas variáveis
depois de estagnados todos os intersetados
depois de condecorados os que já não são suscetíveis
perdeu-se o fio à meada
ficaram desejos empíricos
em tempos corriqueiros de situações comestíveis
em tempos animalescos com tons de odor problemático
em tempos parlamentares por alegorias satíricas
perdeu-se o fio à meada
ficaram desejos empíricos
- - -
pretérito
a machine que eu pretendo não é loiça que me ilustre
o artigo que vou sendo não é forma que me assuste
no pretérito de rindo não há nada que me ofusque
e na amálgama vivendo não em entendo no que busco
histórias distraídas na palavra que me implora
imagens contraídas num espelho que me adora
desejos destruídos noutra rama noutra amora
e o meu corpo mal vestido noutro eu que me devora
- - -
10 000 rios 10 000 montanhas
dez mil rios dez mil montanhas
unidos nas entranhas do tempo
onze estanques entre o descalabro e o momento
julgamentos entretidos entre feridas e feridos
dez mil rios dez mil montanhas
nas entranhas do tempo unidos
gotas tantas tantas tantas
quantas outras coisas tontas nesses rios
dentro de outros vinte e tantos rodopios
progressiva a especialização das contas
gotas tantas tantas tantas
nesses rios quantas outras coisas tontas
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