Há um mês
fui contactada pela minha grande amiga, a Ana, de Vila Nova de Santo
André, por causa de um familiar da minha avó adotiva (a segunda mulher do meu
avô, a que nos criou, a nossa verdadeira avó de coração e sei lá de que mais
patamares da existência). É irmão gémeo da minha avozinha, imaginem, separados
à nascença.
Como me veio
altamente recomendado pela Ana, por quem tenho uma estima imensa, lá me
apresentei ao senhor, no facebook. Ele abriu uma conta só para me contactar e
desde esse dia que mantemos uma conversa no messenger… longa e variada.
Trabalho
numa revista especializada no mundo das artes (sediada em Madrid) e foi
justamente o conhecimento do sr Hans SW Bricks no domínio artístico que começou
por me cativar e me convencer a manter este canal de conversação diariamente
atualizado.
Já tinha
ouvido falar de um alemão misterioso e milionário, que transformava os jardins
da sua mansão em Berlin naquelas que são consideradas as primeiras grandes Wild
Private Raves (WPR) do mundo, as emblemáticas festas Love Paradise, antecedente das posteriores Love Parade.
Pois
revelou-me ser ele esse excêntrico anfitrião de alguns dos primeiros DJs do
mundo, o que me fez imediatamente pensar no meu trabalho na editora e de como
até poderia ter ali material para uma obra documental sobre Berlin e as WPR. No
entanto, após algumas indicações nesse sentido, ele disse-me categoricamente
que não estava interessado em tornar público nada do que quer que viéssemos a
falar. Que agradecia a minha discrição. “Claro que sim”, garanti-lhe. Assim o
farei.
A nossa
conversa tem viajado por muitos universos e ainda que ele vá tentando sempre
saber a minha opinião sobre o que debatemos, eu é que tenho quase sempre tido o
papel de entrevistadora, o que é natural (ainda que a minha vida possa ter um
relativo interesse, ao pé de um titã como ele, sinto-me fascinadamente um
inseto).
O meu campo
de interesses, graças ao meu marido, que é jornalista científico, tem sido
alargado com mais rigor ao universo da física quântica, sem me desligar da
criatividade humana no desvendar do possível nessa imensidão que é o provável.
Há muita arte na ciência contemporânea e ciência na arte contemporânea, por
isso compreendo na linha editorial da nossa revista (que eu co-dirijo) portas
sempre abertas à concetualidade atual e aos avanços tecnológicos.
Foi neste sentido do pensamento criativo e científico que descobri um outro Hans Bricks.
Transcrevo
para aqui um naco da conversa que temos tido no messenger. É importante demais
para se perder.
(…)
Eva Zuse
Sobre o seu
pai deve ter grandes recordações. O nome Joseph B. Bricks é um símbolo em
ousadia empresarial com sucesso.
Hans SW
Bricks
Saberá que o
meu pai me deixou um império enorme, muito bem organizado, mas sempre e só me
envolveu com os do nosso patamar existencial (entenda-se financeiro, social).
Eva Zuse
Considera
que isso foi uma limitação?
Hans SW
Bricks
Não posso
considerar uma limitação porque nós nunca saberemos o que nos teria acontecido
se não tivesse acontecido exatamente tudo o que nos aconteceu.
O meu pai
era uma pessoa muito prática. Dizia várias vezes que, para não se esbanjar
dinheiro, nunca devemos poupar em sorrisos e amigos: “Filho, se não tiveres inimigos,
não tens de contratar seguranças, poupas dinheiro”.
Segundo ele e na sequência desse seu pragmatismo, a relação entre uma necessidade e a sua
satisfação define os graus de entendimento facilitado, os chamados estratos
sociais. E porquê de entendimento facilitado? Porque é muito mais fácil
entender-me com os que têm necessidades semelhantes às minhas.
Por exemplo,
eu e o meu grupo de amigos mais chegados, encontramo-nos regularmente numa casa
de um de nós, quase sempre em países diferentes. Houve até o caso do Geraldo,
que comprou uma mansão fantástica, só para nos receber. Vendeu-a depois. Isto
dá-nos um humor peculiar, próprio. Enfim, acho que somos uma tribo.
Vou-lhe
copiar para aqui um excerto do capítulo de uma tese sobre o meu pai onde é
apresentada a estratificação social de nível alto. Escolho este bocadinho para
que perceba o contexto social das informações que possa vir a partilhar
consigo.
“Assim
chegamos ao que verdadeiramente divide a chamada classe alta, os
financeiramente mais disponíveis.
Joseph
Bricks entende que a noção de posse define os 3 diferentes patamares superiores
da relação entre cada ser humano e o mundo material.
1 –
Assinadores – Os mais poderosos financeiramente, ligados às multinacionais mais
rentáveis, sempre associados à gestão de patrimónios, aos bastidores, os seus
rostos são desconhecidos do grande público, só se lhes conhecendo a assinatura.
Raramente aparecem associados à posse de bens materiais e, verdadeiramente,
possuem pouco de modo definitivo.
2 –
Colecionadores – Milionários associados ao mundo da multiplicidade empresarial,
conhecidos pelas suas coleções especializadas e personalizadas de joias,
castelos, carros de luxo, etc.
3 – Expositores – Milionários que ascenderam financeiramente ou de segunda geração. São muito conhecidos e na maioria dos casos do domínio da cultura pop. Compram de tudo e deixam-se associar ao que compram.”
Ora a minha
tribo situa-se nos Assinadores
É verdade,
não pensamos em nada de palpável. Não pertencemos ao sistema financeiro de
nenhum país, pelo que a ninguém devemos impostos. Compramos um hotel, uns
restaurantes, uma ilha, uma aldeia, onde vivemos durante um tempo e depois
zarpamos a outro local qualquer e vendemos tudo. A única casa que mantenho é
justamente a das raves, em Berlin, a casa onde a família habitualmente passava
o mês de janeiro (e de vez em quando ainda passa).
Voltando
atrás, o seu marido, disse-me, é jornalista e tem trabalhado na área da física
quântica?
Eva Zuse
Sim, tem
abrangido as áreas menos doces do jornalismo científico. Calham-lhe sempre
trabalhos que não trazem relevo por serem temas demasiado complexos do grande
público.
Agora,
imagine, anda à volta de uma empresa qualquer espírita, que inventou uma
máquina de nome Star Truque. Parece que dá para ir buscar objetos a outras
dimensões. Ainda por cima é em Trás-os-Montes. Farta-se de viajar para lá. A
sorte dele é que é um auto-motivado e adora o que faz.
Hans SW
Bricks
Mas que
coincidência. Eu sou um dos investigadores ligados à empresa espírita que o seu
marido reporta.
Chama-se
Alfé-GIP, somos um GIP, um Grupo de Intervenção Paranormal, de âmbito espírita,
mas numa perspetiva muito tecnológica. Criámos uma marca (Ctefpa – Controlo
Tecnológico de Fenómenos Paranormais) para os nossos produtos de tecnologia de
ponta no campo do paranormal, ou do interdimensional, como é menos conhecido.
O nosso amor
pela fantasia levou-nos ao nome Star Truque, o mesmo que referiu na sua
mensagem anterior, que é, por acaso, o ex-libris dos produtos Ctefpa. É a nossa
imagem para o exterior.
Eva Zuse
Quer dizer
que, para além de tudo o que já soube de si, ainda o encontro envolvido,
espantosamente, nos limites mais radicais do tratamento da realidade?
Podia-me
ajudar a integrar isto em tudo o que já me contou?
Compreendo a
sua perplexidade. Compreendo em si, também, uma capacidade de não isolar a
criatividade humana do rigor.
Não deixe
que o racionalismo que lhe foi ensinado e confirmado ao longo da vida a impeça
de compreender a potencial existência de algo para além do compreensível, ainda
que não possa assumir a sua veracidade.
Antes de
continuar…
Preciso de
voltar a falar-lhe da confiança que estou a fazer na promessa que me fez em
manter secreta esta nossa conversa. Por isso me tenho aberto consigo e falado
abertamente do impensável.
Confirma?
Eva Zuse
Sr. Hans,
pode confiar na promessa que lhe fiz. Não contarei a ninguém do que falamos.
Não é a jornalista de artes que está a falar consigo, mas a Eva, a neta da sua
irmã. Eu sei que nunca sequer nos encontrámos e que este abstrato grau de
parentesco que nos une pode ser pouco em matéria de confiança, mas eu tenho
falado consigo abertamente também, pondo nisso o sinal de retribuição da
confidencialidade.
Hans SW
Bricks
OK.
Como já lhe
disse, tenho um grupo de amigos que funciona como uma verdadeira família.
Gostamos e podemos desaparecer de onde quer que seja sem deixar rasto. Gostamos
de explorar…
Não vou
ligar às suas interrogações individualmente, pois nem é delas do que se trata.
A Alfé-GIP é apenas a fachada do nosso verdadeiro trabalho.
Eva Zuse
Uma fachada?
Então, as minhas interrogações são meros detalhes de algo ainda mais
extraordinário? Maravilhe-me.
Hans SW
Bricks
Pois bem,
começámos nisto em 1997.
Será preciso
mencionar-lhe os desenvolvimentos do teletransporte quântico, ocorridos no
início da década anterior. A Partícula de Luz foi a inspiração inicial.
Progredindo, conseguimos enviar um foco inteiro, imediatamente e sem perda de
informação e aí aventurámo-nos com sólidos.
Antes de
continuar, está por dentro destes conceitos ou precisa que lhe explique melhor
algum contexto terminológico antes de continuar?
Eva Zuse
Acho que
consigo acompanhá-lo, no entanto, não se esquive a explicações.
Hans SW
Bricks
Certo!
Sem
microscópios atómicos, nunca teríamos acesso comprovado às realidades não
visíveis a olho nu, dramaticamente pequenas. Falo-lhe dos fotões, mais difíceis
de localizar que qualquer espião profissional, como o confirmaria Heisenberg no
seu Princípio da Incerteza.
Deste mundo
nuclear temos átomos (incluo aqui todos os seus já referidos componentes) que
desaparecem de um local para aparecerem imediatamente noutro. Desta assumida
indeterminação vem a primeira cientificidade teletransportável.
De Einstein ficaram-nos algumas heranças, como a importância de não revelar aos políticos as nossas descobertas (veja-se o caso das bombas da II Guerra Mundial), mas também a obsessão em tudo compreender, diria ele metaforicamente que “Deus não joga aos dados” e que nós entendemos como um desafio a entender a lógica razoável das coisas.
Não me vou
demorar (o seu marido ajudá-la-á nisso) em todos os episódios que levaram,
passo a passo, ao atual estado do conhecimento. Cito-lhe apenas que depois de
passarmos pela Constante de Planck (que arruinou completamente a física
clássica) movida pelas interessantes leis de Rayleigh e Wien, chegamos à Teoria
da Relatividade einsteiniana (sem esquecer determinantes como as equações de
Maxwell).
Mais tarde o
conhecimento viajou para um campo muito específico, o da mecânica quântica
(associada muito a posturas filosóficas) com o imortalista Amit Goswami a
aterrorizar os defensores da vida mortal e finita.
Outros se
lhe seguiram, menos revolucionários mas assinaláveis, como Fritjof Capra e
Eugen Wingner. Todos juntos contribuíram para a ideia de que só o que
observamos é real, por isso temos de continuar a criar mecanismos de observação
dessas entidades microscópicas, confirmando as suas perplexidades.
Eva Zuse
Compreendo que
esteja a tentar ser resumido, que me quer afunilar o pensamento até à
possibilidade do teletransporte. Falei com o meu marido sobre algumas destas
noções de que me fala – na sua resposta encontro, aqui e ali, algumas
contradições terminológicas.
Confunde
propositadamente algum rigor nos autores que refere na sua última mensagem?
Hans SW
Bricks
Compreendo
as suas palavras.
Terá, para
me creditar, que saber que não lemos muitas revistas científicas oficiais, que
o que lhe falo, falo-lhe com o conhecimento dos bastidores, muito diferente do
que sai para o público. Tudo misturado com obsessões de criaturas caprichosas,
nós, os Assinadores... ehehe
No
pensamento que me une aos meus amigos, misturamos tempos e ideias, num cocktail
que usamos sem cronologia nem nexo aparente, numa fórmula de conhecimento que,
propositadamente, junta épocas e contradições. Não fazemos distinção entre o
conhecimento atual e o conhecimento antigo. Saberá que, antigamente, houve
experiências que não puderam ser postas em prática por falta de meios
tecnológicos e entraves ideológicos – o que não quer dizer que não seguissem
rumos válidos.
Mas passemos
ao que lhe quero verdadeiramente contar.
Só no
episódio suíço do teletransporte de luz é que eu comecei a prestar atenção a
esse mundo. Apesar de ainda pouco se falar do assunto e de ainda não ter sido
complemente assumido publicamente (imagino que o seu marido já lhe tenha dito
qualquer coisa sobre isso), nos bastidores já a coisa roda desde os anos 80,
inícios.
Eva Zuse
Sim, o meu
marido referiu-me o facto de terem conseguido a notável distância de 25km num
teletransporte controlado.
Hans SW
Bricks
Vejo que ele
está por dentro, deve ter aberto alguma brecha no muro quase impenetrável do
underground científico. Quem sabe até um dia nos possamos vir a encontrar os
três.
Pelos
meandros por onde me disse que o seu marido anda, acredito que já se tenha
cruzado com “factos interessantes”.
Imagino que
ele não dirá a muita gente o que sabe, sob risco de recuperar dos tempos a
morte das bruxas.
Eva Zuse
Como assim?
Hans SW
Bricks
Se a Eva ou
o seu marido, ou quem quer que seja, falarem abertamente daquilo que ninguém
sonha que possa existir e que a comunidade científica se recusa (ainda) a
comprovar, serão crucificados em termos de credibilidade.
Se o seu
marido, jornalista científico como me disse, editasse algo neste sentido,
provavelmente, nunca mais seria visto com seriedade e, aí, sim, os seus
trabalhos só seriam publicados por revistas light-science ou, com muita sorte,
serviriam de inspiração para obras de ficção-científica.
Eva Zuse
Compreendo o
que me quer dizer. Mesmo os artistas que praticam a idiossincrasia e não dão
origem a nenhuma escola são sempre considerados loucos, talvez visionários.
Senhor Hans,
fazendo um ponto da situação, já percebi que se sentiram estimulados a
investigar o teletransporte desde que tomaram conhecimento da possibilidade
aberta pelas descobertas de Genebra.
Já partilhou
comigo os ingredientes, nomeadamente nomes-referências do mundo das ciências,
que consideram indispensáveis ao vosso trabalho.
Já sei tudo
isto e até já prometi secretismo às suas confissões, mas ainda não sei o que é
que conseguiram afinal com o vosso trabalho, o que é que está por detrás da tal
fachada.
Hans SW
Bricks
Vamos então
ao assunto.
Durante este
processo de experimentação constante e rigorosa fomo-nos deparando, aqui e ali,
com resultados inesperados, mas sempre com o teletransporte em mente.
Numa
abordagem algo diferente do habitual conseguimos um facto extraordinário:
congelar a realidade. (Já lhe explico melhor as implicações.)
Saltando uns
passos, conseguimos perceber que afinal os fotões (com que temos trabalhado
especificamente) não saltam de um lado para o outro instantaneamente.
Com a nossa
obsessão de tudo medir, decidimos, entre milhões de outros dados, incluir as
nano-idades do elemento teletransportado, antes e depois do fenómeno.
Na inovação
do teletransporte pensávamos que tínhamos conseguido aproximar dois espaços,
mantendo o tempo a fluir. Assim, saltávamos de um espaço para outro sem
interrupção de tempo.
Conseguimos?
Não! Nem
pensar.
Os nossos
instrumentos de medição ainda não tinham conseguido perceber o inevitável: só a
linha do tempo pode ser dobrada, (ainda) não a do espaço.
Eva Zuse
Agora acho
que preciso de uma ajudinha para compreender o que me conta.
Hans SW
Bricks
Se calhar
fui depressa demais.
Pois bem, em
vez de explorarmos o teletransporte como o imaginamos, uma passagem imediata no
espaço, sem gasto de tempo, percebemos que afinal estávamos a ir na direção
errada.
Algumas
experiências levaram-nos a concluir que o que tínhamos de explorar era a
distorção do TA (Tempo Alheio) - que distinguimos do TS (Tempo do Sujeito).
Fomos sempre
criando novos equipamentos, e conseguimos chegar à noção de produto ingerível,
em vez de equipamento aplicável.
Conseguimos
um líquido, pequenas estruturas vivas manuseadas já numa abordagem
neo-quântica, que permitiu, a quem o ingeriu, deslocar-se num tempo, não
contado pelos que o não ingeriram.
Decidimos ir
na linha do binómio TA/TS, ou seja, foi como se quem bebesse conseguisse
carregar no botão da pausa de tudo o resto, congelando o TA. Como o seu tempo
(TS) não para, ele movimenta-se livremente. Quando volta a carregar no botão da
pausa e o tempo geral descongela, ele aparece subitamente noutro local, dando a
sensação de movimentação instantânea. No entanto, ficou mais velho que todos os
outros e isso pôde ser medido.
Eva
Zuse
Não sei se
percebi bem a diferença entre TA e TS.
Hans SW
Bricks
Os primeiros
psicólogos radicais da antiguidade tinham razão quando afirmavam que o tempo
psicológico era diferente do tempo cronológico. Não sabiam explicar de outra
forma, não seria possível então fazê-lo.
Sabe com
certeza das linhas do tempo e do espaço. O que não sabia é que descobrimos duas
sublinhas na linha do tempo, a do Tempo Alheio e a do Tempo do Sujeito. Ambas
com leis próprias que ainda estamos a compilar.
Temos então
no tempo a vivência do sujeito e a vivência alheia. Através dos avanços
físicos, já tínhamos até conseguido esquematizar graficamente o movimento e
cruzamento das linhas.
O que foi
verdadeiramente novo foi termos conseguido fazê-lo de forma controlada. Nunca congeláramos
nenhuma dessas linhas com consciência, pela embriaguez de se ter conseguido
ilusoriamente dobrado o espaço.
Acompanhou?
Eva Zuse
Sim, desta
vez sim. Absolutamente extraordinário esse virar de rumo.
Já percebi o
potencial de maravilhamento envolvido no que me conta. Sinto-me
entusiasmadíssima por tudo o que acabei de ler.
Imensamente
grata pela partilha.
Hans SW
Bricks
Então posso
continuar?
Eva Zuse
Há mais?
Hans SW
Bricks
Há, sim,
quase que lhe poderia dizer que ainda só vamos no hall de entrada.
Pois bem…
O processo
de investigação continuou. Começámos a ter resultados cada vez mais
interessantes ao nível do controle das linhas do tempo. Ainda não conseguimos
uma única interferência nas do espaço, não sabemos se é porque não existem, ou
porque, simplesmente, ainda não conseguimos.
Como
prevíramos, quanto maior fosse a distância entre os locais de partida e
chegada, mais envelhecido se encontrava o nosso sujeito, comprovando o tempo
necessário do percurso.
Eva Zuse
Então,
explique-me: comprovaram a existência dessas linhas a funcionar de forma
autónoma.
E avançaram
nalguma direção?
Hans SW
Bricks
Como lhe
disse, antes de mais, conseguimos transformar um método que envolvia máquinas e
processos fisicamente até dolorosos, num outro que se resume a beber um produto
em completa sintonia de objetivos.
Continuando...
Concluída a
fase da constatação da existência de linhas temporais, passámos a uma nova
preocupação: outros sujeitos, desta vez macroscópicos. Começámos por pequenos
objetos inanimados, fizemos misturas que acabaram mal. Fizemos novas misturas
que voltaram a acabar mal. Dizimámos gerações inteiras de ratos brancos.
Desistimos.
Fechámos o
dossier dos registos. Desesperámos no sentido de experimentar o teletransporte
com sujeitos vivos e ficámos concluídos neste ponto, ou seja, chegámos a um
beco sem saída.
Eva Zuse
Mas, mesmo
não conseguindo avançar, deviam ficar satisfeitos com o que conseguiram. É
notável o que me conta.
Além disso,
saberá, com certeza, que qualquer avanço científico permite novos passos às
gerações vindouras.
Sempre assim
foi.
Hans SW
Bricks
Sabe, o que
as gerações vindouras farão com o conhecimento conseguido é problema delas.
Nós
decidimos dar-nos uma última hipótese e fazer a derradeira experiência:
pessoas.
Com acesso
privilegiado a bancos de DNA, conseguimos recolher amostras únicas de DNA
humano de diferentes origens e de várias condições físicas. Algumas das
amostras eram de facto únicas, irrepetíveis. Investimos tudo nesta última
bebida.
Usámos o
conhecimento dos efeitos psicotrópicos de drogas como o LSD e criámos um super
produto, um que iria ou ter um sucesso estrondoso ou eliminar de vez o nosso
percurso científico, nesta direção.
Procurámos
voluntários, não podíamos experimentar nós próprios sob risco de não conseguir
monitorizar a experiência, já que o grupo era pequeno e éramos todos
necessários para controlar eventuais desvios.
Após alguns
dias de procura infrutífera de voluntários, o prazo para que o líquido se
mantivesse com as condições apropriadas terminava e não havia qualquer hipótese
de conseguir tudo de novo. Lembre-se que, por ter sido uma última hipótese,
usámos tudo o que tínhamos. Não havia forma de fazer outro, pelo menos não com
as mesmas características.
Finalmente,
tivemos de tomar a decisão de destruir o líquido conseguido. Deparei-me,
angustiado, com o tubo na mão para despejar no incinerador. O resultado de tudo
o que tínhamos feito nos últimos anos e que nos tinha dado sentido à vida. Não
consegui virar o frasco. Deitei-o à boca. Perante o assombro geral deitei-o à
boca e bebi tudo de um só trago, antes da precaução tomar o lugar do risco e da
aventura.
Eva Zuse
E então?
Hans SW
Bricks
Tudo parou à
minha volta.
Eva Zuse
Como assim?
Não me diga que…
Hans SW
Bricks
É isso que
está a pensar.
Resultou.
Eva Zuse
Então
podemos dizer que conseguiu parar o TA?
Hans SW
Bricks
Exatamente e
com um efeito que se não for permanente (como suspeito que seja), pelo menos
ainda não desapareceu.
Fundamentalmente,
consigo apreender tudo. Parar o tempo para conseguir observar cada fração de
cada movimento, como se víssemos cada imagem de uma película cinematográfica,
mas verdadeiramente em 3 dimensões e com possibilidades interativas.
Preciso,
novamente, de lhe pedir, a cada linha que lhe escrevo, um cada vez maior
secretismo. Deste sucesso, nem aos meus colegas de trabalho falei.
Eva Zuse
Os seus
colegas não chegaram a saber que teve sucesso?
Mas porquê?
Hans SW
Bricks
Inicialmente,
entrei em pânico. Posteriormente, acabei por ficar envergonhado por não ter
dito nada. Agora, simplesmente deixo andar. Logo se vê se digo alguma coisa ou
não.
Quanto ao
efeito, no início, de repente, o tempo parava sem controlo.
Agora,
volvido algum tempo (de investigação solitária), já percebi os mecanismos
mentais que preciso de ativar para congelar e descongelar o TA.
Eva Zuse
Pelo que sei
do mundo das investigações, haverá com certeza novos termos, novas palavras, os
neologismos da ciência. Interessa-me muito esse campo. Tem alguma coisa a dizer
sobre isso?
Hans SW
Bricks
Pois sim,
temos o Dininho.
Não se
preocupe, não é o termo científico, mas o nome carinhoso que atribuímos ao
fenómeno. (Somos muito dados a estas coisas de dar nomes familiares ao que nos
circunda com frequência, como que um vocabulário próprio, nosso.)
Ora bem, o
Dininho é um fenómeno conhecido nas ciências não racionais como Êxtase
Temporal. O nome científico, atribuído por nós, já que somos os pioneiros na
matéria é bastante extenso, daí também a abreviatura. Trata-se do Cotamatsu
(Congelamento do Tempo Alheio e Manutenção Animada do Tempo do Sujeito).
É uma
experiência que, por enquanto, só eu conheço.
Digamos que
sou a única experiência macroscópica com sucesso.
Eva Zuse
Imaginará
que me surgem imediatamente inúmeras questões que lhe gostaria de colocar,
sendo que, assim de repente…
Como é a
sensação de conseguir parar o TA e viver durante toda a imobilidade geral?
Hans SW
Bricks
Parar o
tempo, no fundo, é apenas parar o movimento. É ter a noção de dimensões como o
espaço, o tempo e o movimento e conseguir dominar cada uma delas. Tudo para
menos eu. (Devia gostar de experimentar pingas de um dia de chuva em pausa
completa - no ar, à sua volta - é lindo.) Resumindo, durante esse período tenho
todo o mundo material ao meu dispor.
Vou a todo o
lado e faço o que me apetece.
Dou-lhe um
exemplo. Se quiser ir a algum local e deixar marcas da minha estadia, gerará
suspeitas da minha atividade durante o congelamento, podem-se até recolher
indícios fortes de que eu alguma vez tenha estado nesse determinado local, mas
nada deteta o momento da minha passagem por lá, nem câmaras, nem sensores, nem
nada, sendo, em contrapartida, a minha presença confirmada noutros locais… o
álibi perfeito para o desconcerto de quem me quiser seguir a pista. Não me
queira como inimigo... ehehe
(…)
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