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Conversas





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Eva Zuse




Há um mês fui contactada pela minha grande amiga, a Ana, de Vila Nova de Santo André, por causa de um familiar da minha avó adotiva (a segunda mulher do meu avô, a que nos criou, a nossa verdadeira avó de coração e sei lá de que mais patamares da existência). É irmão gémeo da minha avozinha, imaginem, separados à nascença.

Como me veio altamente recomendado pela Ana, por quem tenho uma estima imensa, lá me apresentei ao senhor, no facebook. Ele abriu uma conta só para me contactar e desde esse dia que mantemos uma conversa no messenger… longa e variada.

Trabalho numa revista especializada no mundo das artes (sediada em Madrid) e foi justamente o conhecimento do sr Hans SW Bricks no domínio artístico que começou por me cativar e me convencer a manter este canal de conversação diariamente atualizado.

Já tinha ouvido falar de um alemão misterioso e milionário, que transformava os jardins da sua mansão em Berlin naquelas que são consideradas as primeiras grandes Wild Private Raves (WPR) do mundo, as emblemáticas festas Love Paradise, antecedente das posteriores Love Parade. 

Pois revelou-me ser ele esse excêntrico anfitrião de alguns dos primeiros DJs do mundo, o que me fez imediatamente pensar no meu trabalho na editora e de como até poderia ter ali material para uma obra documental sobre Berlin e as WPR. No entanto, após algumas indicações nesse sentido, ele disse-me categoricamente que não estava interessado em tornar público nada do que quer que viéssemos a falar. Que agradecia a minha discrição. “Claro que sim”, garanti-lhe. Assim o farei.

A nossa conversa tem viajado por muitos universos e ainda que ele vá tentando sempre saber a minha opinião sobre o que debatemos, eu é que tenho quase sempre tido o papel de entrevistadora, o que é natural (ainda que a minha vida possa ter um relativo interesse, ao pé de um titã como ele, sinto-me fascinadamente um inseto).

O meu campo de interesses, graças ao meu marido, que é jornalista científico, tem sido alargado com mais rigor ao universo da física quântica, sem me desligar da criatividade humana no desvendar do possível nessa imensidão que é o provável. Há muita arte na ciência contemporânea e ciência na arte contemporânea, por isso compreendo na linha editorial da nossa revista (que eu co-dirijo) portas sempre abertas à concetualidade atual e aos avanços tecnológicos.

 




Foi neste sentido do pensamento criativo e científico que descobri um outro Hans Bricks.

Transcrevo para aqui um naco da conversa que temos tido no messenger. É importante demais para se perder.

 

 

 (…)

 

Eva Zuse

Sobre o seu pai deve ter grandes recordações. O nome Joseph B. Bricks é um símbolo em ousadia empresarial com sucesso.

 

Hans SW Bricks

Saberá que o meu pai me deixou um império enorme, muito bem organizado, mas sempre e só me envolveu com os do nosso patamar existencial (entenda-se financeiro, social).

 

Eva Zuse

Considera que isso foi uma limitação?

 

Hans SW Bricks

Não posso considerar uma limitação porque nós nunca saberemos o que nos teria acontecido se não tivesse acontecido exatamente tudo o que nos aconteceu.

O meu pai era uma pessoa muito prática. Dizia várias vezes que, para não se esbanjar dinheiro, nunca devemos poupar em sorrisos e amigos: “Filho, se não tiveres inimigos, não tens de contratar seguranças, poupas dinheiro”.

Segundo ele e na sequência desse seu pragmatismo, a relação entre uma necessidade e a sua satisfação define os graus de entendimento facilitado, os chamados estratos sociais. E porquê de entendimento facilitado? Porque é muito mais fácil entender-me com os que têm necessidades semelhantes às minhas.

Por exemplo, eu e o meu grupo de amigos mais chegados, encontramo-nos regularmente numa casa de um de nós, quase sempre em países diferentes. Houve até o caso do Geraldo, que comprou uma mansão fantástica, só para nos receber. Vendeu-a depois. Isto dá-nos um humor peculiar, próprio. Enfim, acho que somos uma tribo.

Vou-lhe copiar para aqui um excerto do capítulo de uma tese sobre o meu pai onde é apresentada a estratificação social de nível alto. Escolho este bocadinho para que perceba o contexto social das informações que possa vir a partilhar consigo.

 

“Assim chegamos ao que verdadeiramente divide a chamada classe alta, os financeiramente mais disponíveis.

Joseph Bricks entende que a noção de posse define os 3 diferentes patamares superiores da relação entre cada ser humano e o mundo material.

1 – Assinadores – Os mais poderosos financeiramente, ligados às multinacionais mais rentáveis, sempre associados à gestão de patrimónios, aos bastidores, os seus rostos são desconhecidos do grande público, só se lhes conhecendo a assinatura. Raramente aparecem associados à posse de bens materiais e, verdadeiramente, possuem pouco de modo definitivo.

2 – Colecionadores – Milionários associados ao mundo da multiplicidade empresarial, conhecidos pelas suas coleções especializadas e personalizadas de joias, castelos, carros de luxo, etc.

 




3 – Expositores – Milionários que ascenderam financeiramente ou de segunda geração. São muito conhecidos e na maioria dos casos do domínio da cultura pop. Compram de tudo e deixam-se associar ao que compram.”

Ora a minha tribo situa-se nos Assinadores

É verdade, não pensamos em nada de palpável. Não pertencemos ao sistema financeiro de nenhum país, pelo que a ninguém devemos impostos. Compramos um hotel, uns restaurantes, uma ilha, uma aldeia, onde vivemos durante um tempo e depois zarpamos a outro local qualquer e vendemos tudo. A única casa que mantenho é justamente a das raves, em Berlin, a casa onde a família habitualmente passava o mês de janeiro (e de vez em quando ainda passa).

Voltando atrás, o seu marido, disse-me, é jornalista e tem trabalhado na área da física quântica?

 

Eva Zuse

Sim, tem abrangido as áreas menos doces do jornalismo científico. Calham-lhe sempre trabalhos que não trazem relevo por serem temas demasiado complexos do grande público.

Agora, imagine, anda à volta de uma empresa qualquer espírita, que inventou uma máquina de nome Star Truque. Parece que dá para ir buscar objetos a outras dimensões. Ainda por cima é em Trás-os-Montes. Farta-se de viajar para lá. A sorte dele é que é um auto-motivado e adora o que faz.

 

Hans SW Bricks

Mas que coincidência. Eu sou um dos investigadores ligados à empresa espírita que o seu marido reporta.

Chama-se Alfé-GIP, somos um GIP, um Grupo de Intervenção Paranormal, de âmbito espírita, mas numa perspetiva muito tecnológica. Criámos uma marca (Ctefpa – Controlo Tecnológico de Fenómenos Paranormais) para os nossos produtos de tecnologia de ponta no campo do paranormal, ou do interdimensional, como é menos conhecido.

O nosso amor pela fantasia levou-nos ao nome Star Truque, o mesmo que referiu na sua mensagem anterior, que é, por acaso, o ex-libris dos produtos Ctefpa. É a nossa imagem para o exterior.

 

Eva Zuse

Quer dizer que, para além de tudo o que já soube de si, ainda o encontro envolvido, espantosamente, nos limites mais radicais do tratamento da realidade?

Podia-me ajudar a integrar isto em tudo o que já me contou?

 




Hans SW Bricks

Compreendo a sua perplexidade. Compreendo em si, também, uma capacidade de não isolar a criatividade humana do rigor.

Não deixe que o racionalismo que lhe foi ensinado e confirmado ao longo da vida a impeça de compreender a potencial existência de algo para além do compreensível, ainda que não possa assumir a sua veracidade.

Antes de continuar…

Preciso de voltar a falar-lhe da confiança que estou a fazer na promessa que me fez em manter secreta esta nossa conversa. Por isso me tenho aberto consigo e falado abertamente do impensável.

Confirma?

 

Eva Zuse

Sr. Hans, pode confiar na promessa que lhe fiz. Não contarei a ninguém do que falamos. Não é a jornalista de artes que está a falar consigo, mas a Eva, a neta da sua irmã. Eu sei que nunca sequer nos encontrámos e que este abstrato grau de parentesco que nos une pode ser pouco em matéria de confiança, mas eu tenho falado consigo abertamente também, pondo nisso o sinal de retribuição da confidencialidade.

 

Hans SW Bricks

OK.

Como já lhe disse, tenho um grupo de amigos que funciona como uma verdadeira família. Gostamos e podemos desaparecer de onde quer que seja sem deixar rasto. Gostamos de explorar…

Não vou ligar às suas interrogações individualmente, pois nem é delas do que se trata. A Alfé-GIP é apenas a fachada do nosso verdadeiro trabalho.

 

Eva Zuse

Uma fachada? Então, as minhas interrogações são meros detalhes de algo ainda mais extraordinário? Maravilhe-me.

 

Hans SW Bricks

Pois bem, começámos nisto em 1997.

Será preciso mencionar-lhe os desenvolvimentos do teletransporte quântico, ocorridos no início da década anterior. A Partícula de Luz foi a inspiração inicial. Progredindo, conseguimos enviar um foco inteiro, imediatamente e sem perda de informação e aí aventurámo-nos com sólidos.

Antes de continuar, está por dentro destes conceitos ou precisa que lhe explique melhor algum contexto terminológico antes de continuar?

 

Eva Zuse

Acho que consigo acompanhá-lo, no entanto, não se esquive a explicações.

 

Hans SW Bricks

Certo!

Sem microscópios atómicos, nunca teríamos acesso comprovado às realidades não visíveis a olho nu, dramaticamente pequenas. Falo-lhe dos fotões, mais difíceis de localizar que qualquer espião profissional, como o confirmaria Heisenberg no seu Princípio da Incerteza.

Deste mundo nuclear temos átomos (incluo aqui todos os seus já referidos componentes) que desaparecem de um local para aparecerem imediatamente noutro. Desta assumida indeterminação vem a primeira cientificidade teletransportável.

 




De Einstein ficaram-nos algumas heranças, como a importância de não revelar aos políticos as nossas descobertas (veja-se o caso das bombas da II Guerra Mundial), mas também a obsessão em tudo compreender, diria ele metaforicamente que “Deus não joga aos dados” e que nós entendemos como um desafio a entender a lógica razoável das coisas.

Não me vou demorar (o seu marido ajudá-la-á nisso) em todos os episódios que levaram, passo a passo, ao atual estado do conhecimento. Cito-lhe apenas que depois de passarmos pela Constante de Planck (que arruinou completamente a física clássica) movida pelas interessantes leis de Rayleigh e Wien, chegamos à Teoria da Relatividade einsteiniana (sem esquecer determinantes como as equações de Maxwell).

Mais tarde o conhecimento viajou para um campo muito específico, o da mecânica quântica (associada muito a posturas filosóficas) com o imortalista Amit Goswami a aterrorizar os defensores da vida mortal e finita.

Outros se lhe seguiram, menos revolucionários mas assinaláveis, como Fritjof Capra e Eugen Wingner. Todos juntos contribuíram para a ideia de que só o que observamos é real, por isso temos de continuar a criar mecanismos de observação dessas entidades microscópicas, confirmando as suas perplexidades.

 

Eva Zuse

Compreendo que esteja a tentar ser resumido, que me quer afunilar o pensamento até à possibilidade do teletransporte. Falei com o meu marido sobre algumas destas noções de que me fala – na sua resposta encontro, aqui e ali, algumas contradições terminológicas.

Confunde propositadamente algum rigor nos autores que refere na sua última mensagem?

 

Hans SW Bricks

Compreendo as suas palavras.

Terá, para me creditar, que saber que não lemos muitas revistas científicas oficiais, que o que lhe falo, falo-lhe com o conhecimento dos bastidores, muito diferente do que sai para o público. Tudo misturado com obsessões de criaturas caprichosas, nós, os Assinadores... ehehe

No pensamento que me une aos meus amigos, misturamos tempos e ideias, num cocktail que usamos sem cronologia nem nexo aparente, numa fórmula de conhecimento que, propositadamente, junta épocas e contradições. Não fazemos distinção entre o conhecimento atual e o conhecimento antigo. Saberá que, antigamente, houve experiências que não puderam ser postas em prática por falta de meios tecnológicos e entraves ideológicos – o que não quer dizer que não seguissem rumos válidos.

 




Mas passemos ao que lhe quero verdadeiramente contar.

Só no episódio suíço do teletransporte de luz é que eu comecei a prestar atenção a esse mundo. Apesar de ainda pouco se falar do assunto e de ainda não ter sido complemente assumido publicamente (imagino que o seu marido já lhe tenha dito qualquer coisa sobre isso), nos bastidores já a coisa roda desde os anos 80, inícios.

 

Eva Zuse

Sim, o meu marido referiu-me o facto de terem conseguido a notável distância de 25km num teletransporte controlado.

 

Hans SW Bricks

Vejo que ele está por dentro, deve ter aberto alguma brecha no muro quase impenetrável do underground científico. Quem sabe até um dia nos possamos vir a encontrar os três.

Pelos meandros por onde me disse que o seu marido anda, acredito que já se tenha cruzado com “factos interessantes”.

Imagino que ele não dirá a muita gente o que sabe, sob risco de recuperar dos tempos a morte das bruxas.

 

Eva Zuse

Como assim?

 

Hans SW Bricks

Se a Eva ou o seu marido, ou quem quer que seja, falarem abertamente daquilo que ninguém sonha que possa existir e que a comunidade científica se recusa (ainda) a comprovar, serão crucificados em termos de credibilidade.

Se o seu marido, jornalista científico como me disse, editasse algo neste sentido, provavelmente, nunca mais seria visto com seriedade e, aí, sim, os seus trabalhos só seriam publicados por revistas light-science ou, com muita sorte, serviriam de inspiração para obras de ficção-científica.

 

Eva Zuse

Compreendo o que me quer dizer. Mesmo os artistas que praticam a idiossincrasia e não dão origem a nenhuma escola são sempre considerados loucos, talvez visionários.

Senhor Hans, fazendo um ponto da situação, já percebi que se sentiram estimulados a investigar o teletransporte desde que tomaram conhecimento da possibilidade aberta pelas descobertas de Genebra. 

Já partilhou comigo os ingredientes, nomeadamente nomes-referências do mundo das ciências, que consideram indispensáveis ao vosso trabalho.

Já sei tudo isto e até já prometi secretismo às suas confissões, mas ainda não sei o que é que conseguiram afinal com o vosso trabalho, o que é que está por detrás da tal fachada.

 

Hans SW Bricks

Vamos então ao assunto.

Durante este processo de experimentação constante e rigorosa fomo-nos deparando, aqui e ali, com resultados inesperados, mas sempre com o teletransporte em mente.

 



 

Numa abordagem algo diferente do habitual conseguimos um facto extraordinário: congelar a realidade. (Já lhe explico melhor as implicações.)

Saltando uns passos, conseguimos perceber que afinal os fotões (com que temos trabalhado especificamente) não saltam de um lado para o outro instantaneamente.

Com a nossa obsessão de tudo medir, decidimos, entre milhões de outros dados, incluir as nano-idades do elemento teletransportado, antes e depois do fenómeno.

Na inovação do teletransporte pensávamos que tínhamos conseguido aproximar dois espaços, mantendo o tempo a fluir. Assim, saltávamos de um espaço para outro sem interrupção de tempo.

Conseguimos?

Não! Nem pensar.

Os nossos instrumentos de medição ainda não tinham conseguido perceber o inevitável: só a linha do tempo pode ser dobrada, (ainda) não a do espaço.

 

Eva Zuse

Agora acho que preciso de uma ajudinha para compreender o que me conta.

 

Hans SW Bricks

Se calhar fui depressa demais.

Pois bem, em vez de explorarmos o teletransporte como o imaginamos, uma passagem imediata no espaço, sem gasto de tempo, percebemos que afinal estávamos a ir na direção errada.

Algumas experiências levaram-nos a concluir que o que tínhamos de explorar era a distorção do TA (Tempo Alheio) - que distinguimos do TS (Tempo do Sujeito).

Fomos sempre criando novos equipamentos, e conseguimos chegar à noção de produto ingerível, em vez de equipamento aplicável.

Conseguimos um líquido, pequenas estruturas vivas manuseadas já numa abordagem neo-quântica, que permitiu, a quem o ingeriu, deslocar-se num tempo, não contado pelos que o não ingeriram.

Decidimos ir na linha do binómio TA/TS, ou seja, foi como se quem bebesse conseguisse carregar no botão da pausa de tudo o resto, congelando o TA. Como o seu tempo (TS) não para, ele movimenta-se livremente. Quando volta a carregar no botão da pausa e o tempo geral descongela, ele aparece subitamente noutro local, dando a sensação de movimentação instantânea. No entanto, ficou mais velho que todos os outros e isso pôde ser medido.

 

Eva Zuse                                                                

Não sei se percebi bem a diferença entre TA e TS.

 

Hans SW Bricks                                                    

Os primeiros psicólogos radicais da antiguidade tinham razão quando afirmavam que o tempo psicológico era diferente do tempo cronológico. Não sabiam explicar de outra forma, não seria possível então fazê-lo.

Sabe com certeza das linhas do tempo e do espaço. O que não sabia é que descobrimos duas sublinhas na linha do tempo, a do Tempo Alheio e a do Tempo do Sujeito. Ambas com leis próprias que ainda estamos a compilar.

 



 

Temos então no tempo a vivência do sujeito e a vivência alheia. Através dos avanços físicos, já tínhamos até conseguido esquematizar graficamente o movimento e cruzamento das linhas.

O que foi verdadeiramente novo foi termos conseguido fazê-lo de forma controlada. Nunca congeláramos nenhuma dessas linhas com consciência, pela embriaguez de se ter conseguido ilusoriamente dobrado o espaço.

Acompanhou?

 

Eva Zuse

Sim, desta vez sim. Absolutamente extraordinário esse virar de rumo.

Já percebi o potencial de maravilhamento envolvido no que me conta. Sinto-me entusiasmadíssima por tudo o que acabei de ler.

Imensamente grata pela partilha.

 

Hans SW Bricks

Então posso continuar?

 

Eva Zuse

Há mais?

 

Hans SW Bricks

Há, sim, quase que lhe poderia dizer que ainda só vamos no hall de entrada.

Pois bem…

O processo de investigação continuou. Começámos a ter resultados cada vez mais interessantes ao nível do controle das linhas do tempo. Ainda não conseguimos uma única interferência nas do espaço, não sabemos se é porque não existem, ou porque, simplesmente, ainda não conseguimos.

Como prevíramos, quanto maior fosse a distância entre os locais de partida e chegada, mais envelhecido se encontrava o nosso sujeito, comprovando o tempo necessário do percurso.

 

Eva Zuse

Então, explique-me: comprovaram a existência dessas linhas a funcionar de forma autónoma.

E avançaram nalguma direção?

 

Hans SW Bricks

Como lhe disse, antes de mais, conseguimos transformar um método que envolvia máquinas e processos fisicamente até dolorosos, num outro que se resume a beber um produto em completa sintonia de objetivos.

Continuando...

Concluída a fase da constatação da existência de linhas temporais, passámos a uma nova preocupação: outros sujeitos, desta vez macroscópicos. Começámos por pequenos objetos inanimados, fizemos misturas que acabaram mal. Fizemos novas misturas que voltaram a acabar mal. Dizimámos gerações inteiras de ratos brancos.

Desistimos.

Fechámos o dossier dos registos. Desesperámos no sentido de experimentar o teletransporte com sujeitos vivos e ficámos concluídos neste ponto, ou seja, chegámos a um beco sem saída.

 

Eva Zuse

Mas, mesmo não conseguindo avançar, deviam ficar satisfeitos com o que conseguiram. É notável o que me conta.

Além disso, saberá, com certeza, que qualquer avanço científico permite novos passos às gerações vindouras.

Sempre assim foi.

 



 

Hans SW Bricks

Sabe, o que as gerações vindouras farão com o conhecimento conseguido é problema delas.

Nós decidimos dar-nos uma última hipótese e fazer a derradeira experiência: pessoas.

Com acesso privilegiado a bancos de DNA, conseguimos recolher amostras únicas de DNA humano de diferentes origens e de várias condições físicas. Algumas das amostras eram de facto únicas, irrepetíveis. Investimos tudo nesta última bebida.

Usámos o conhecimento dos efeitos psicotrópicos de drogas como o LSD e criámos um super produto, um que iria ou ter um sucesso estrondoso ou eliminar de vez o nosso percurso científico, nesta direção.

Procurámos voluntários, não podíamos experimentar nós próprios sob risco de não conseguir monitorizar a experiência, já que o grupo era pequeno e éramos todos necessários para controlar eventuais desvios.

Após alguns dias de procura infrutífera de voluntários, o prazo para que o líquido se mantivesse com as condições apropriadas terminava e não havia qualquer hipótese de conseguir tudo de novo. Lembre-se que, por ter sido uma última hipótese, usámos tudo o que tínhamos. Não havia forma de fazer outro, pelo menos não com as mesmas características.

Finalmente, tivemos de tomar a decisão de destruir o líquido conseguido. Deparei-me, angustiado, com o tubo na mão para despejar no incinerador. O resultado de tudo o que tínhamos feito nos últimos anos e que nos tinha dado sentido à vida. Não consegui virar o frasco. Deitei-o à boca. Perante o assombro geral deitei-o à boca e bebi tudo de um só trago, antes da precaução tomar o lugar do risco e da aventura.

 

Eva Zuse

E então?

 

Hans SW Bricks

Tudo parou à minha volta.

 

Eva Zuse

Como assim? Não me diga que…

 

Hans SW Bricks

É isso que está a pensar.

Resultou.

 

Eva Zuse

Então podemos dizer que conseguiu parar o TA?

 

Hans SW Bricks

Exatamente e com um efeito que se não for permanente (como suspeito que seja), pelo menos ainda não desapareceu.

Fundamentalmente, consigo apreender tudo. Parar o tempo para conseguir observar cada fração de cada movimento, como se víssemos cada imagem de uma película cinematográfica, mas verdadeiramente em 3 dimensões e com possibilidades interativas.

 



 

Preciso, novamente, de lhe pedir, a cada linha que lhe escrevo, um cada vez maior secretismo. Deste sucesso, nem aos meus colegas de trabalho falei.

 

Eva Zuse

Os seus colegas não chegaram a saber que teve sucesso?

Mas porquê?

 

Hans SW Bricks

Inicialmente, entrei em pânico. Posteriormente, acabei por ficar envergonhado por não ter dito nada. Agora, simplesmente deixo andar. Logo se vê se digo alguma coisa ou não.

Quanto ao efeito, no início, de repente, o tempo parava sem controlo.

Agora, volvido algum tempo (de investigação solitária), já percebi os mecanismos mentais que preciso de ativar para congelar e descongelar o TA.  

 

Eva Zuse

Pelo que sei do mundo das investigações, haverá com certeza novos termos, novas palavras, os neologismos da ciência. Interessa-me muito esse campo. Tem alguma coisa a dizer sobre isso?

 

Hans SW Bricks

Pois sim, temos o Dininho.

Não se preocupe, não é o termo científico, mas o nome carinhoso que atribuímos ao fenómeno. (Somos muito dados a estas coisas de dar nomes familiares ao que nos circunda com frequência, como que um vocabulário próprio, nosso.)

Ora bem, o Dininho é um fenómeno conhecido nas ciências não racionais como Êxtase Temporal. O nome científico, atribuído por nós, já que somos os pioneiros na matéria é bastante extenso, daí também a abreviatura. Trata-se do Cotamatsu (Congelamento do Tempo Alheio e Manutenção Animada do Tempo do Sujeito).

É uma experiência que, por enquanto, só eu conheço.

Digamos que sou a única experiência macroscópica com sucesso.

 

Eva Zuse

Imaginará que me surgem imediatamente inúmeras questões que lhe gostaria de colocar, sendo que, assim de repente…

Como é a sensação de conseguir parar o TA e viver durante toda a imobilidade geral?

 

Hans SW Bricks

Parar o tempo, no fundo, é apenas parar o movimento. É ter a noção de dimensões como o espaço, o tempo e o movimento e conseguir dominar cada uma delas. Tudo para menos eu. (Devia gostar de experimentar pingas de um dia de chuva em pausa completa - no ar, à sua volta - é lindo.) Resumindo, durante esse período tenho todo o mundo material ao meu dispor.

Vou a todo o lado e faço o que me apetece.

Dou-lhe um exemplo. Se quiser ir a algum local e deixar marcas da minha estadia, gerará suspeitas da minha atividade durante o congelamento, podem-se até recolher indícios fortes de que eu alguma vez tenha estado nesse determinado local, mas nada deteta o momento da minha passagem por lá, nem câmaras, nem sensores, nem nada, sendo, em contrapartida, a minha presença confirmada noutros locais… o álibi perfeito para o desconcerto de quem me quiser seguir a pista. Não me queira como inimigo... ehehe

 

(…)

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